Em uma sexta feira, algumas semanas atrás, eu tinha sido convidada para ir dormir na casa de uma amiga pela primeira vez. Todo mundo já teve essa experiência desagradável de ficar quieta (o) em um canto da casa e não se mexer até o dono da casa te chamar e falar aquela frase que sempre nos deixa vermelhos: "sinta-se em casa".
Ela era nova na escola e há pouco tempo, nós não passávamos de colegas. Claro, que entre nós, na escola, não havia vergonha, mas ao chegar lá, parece que uma barreira me separou do resto do mundo. Talvez tenha ficado intimidada com o tamanho da casa dela e, com a decoração de seu quarto (eu tenho esse espírito velho que repara no papel de parede), mas o quarto era extremamente bonito.
Depois de ela me mostrar todos os quatro andares da sua casa, nós fomos para a cozinha comer. Quando ela me perguntou o que eu gostaria de comer, o pânico me percorreu novamente. Todo mundo já teve vergonha em uma situações como essa, de não saber o que responder. Foi isso que aconteceu, a única coisa que eu consegui pensar foi:
— Pode ser.
Ela riu, já era de se esperar. Ficou um longo e constrangedor silêncio até nós começarmos a comer, a janta inteira foi ela puxando assunto e eu, com a boca cheia, concordando com a cabeça. Depois de um tempo, os pais e o irmão dela se juntaram conosco na mesa, acabamos mais rápido e subimos para o seu quarto.
Ela sentou no sofá, eu no chão, ficamos nos encarando por um tempo e simplesmente desistimos da nossa relação e pegamos o celular. Ficamos mexendo nele por horas, enquanto eu exercitava os dedos, olhava de relance para ela, percebi que essa obsessão por conversa olho no olho, não era recíproco, mas eu não queria ficar a noite inteira ali, então dei o primeiro passo:
― Vamos conversar?
Ela bloqueou o telefone e respondeu:
― Claro!
― Algum assunto?
― ...Não.
Então, caímos naquela risada forçada, mas ela abriu as portas para uma conversa de verdade. Enquanto estávamos a conversar, guardei a vergonha bem no fundo do lugar onde a vergonha fica.
